Estava lendo uma reportagem sobre drogas esse final de semana e comecei a pensar em medidas drásticas para resolver alguns problemas.
Não sou nenhuma hipócrita e nem acho todas as drogas são ruins etc. Acho “injusto”, por exemplo, a proibição da maconha e a liberação do álcool, mas a questão fica radical em minha opinião quando é sobre drogas como o crack.
Depois da minha estadia em São Paulo e de circular por áreas não muito boas, com apelidos bem característicos, eu passei a ver o vicio em crack como uma coisa sem saída.
É triste, mas a droga age de forma tão rápida e a pessoa fica tão acabada que eu não consigo ver um jeito da pessoa se livrar disso. Sei que não tenho experiência nisso, convivi com poucos drogados, mas os passos necessários para ter acesso à reabilitação podem ser muito difíceis de serem atingidos.
O exemplo mais próximo que tenho disso é o irmão de um amigo. Quando éramos novos, ele fumava maconha, ficou dependente e nunca conseguiu se livrar.
Anos depois fui saber que ele havia passado para a cocaína. Lembro que na época eu pensei: “Se ele não conseguiu se livrar da maconha, dificilmente se livrará da cocaína”. Ano passado, eu encontrei com esse amigo e soube que ele havia encontrado o irmão perambulando fedido próximo a casa dele, de roupas rasgadas, com várias feridas e muito doente. Ele havia passado para o crack.
Meu amigo o pegou, botou dentro de casa, cuidou dos machucados, o trancou num quarto para o período mais brabo da abstinência e tentou convencê-lo a ir para a reabilitação.
O cara só aceitou ir para o tratamento, porque era a única opção que ele tinha sem ser voltar pra rua. Ele não percebeu o estrago que havia feito na vida dele, ele simplesmente achou que poderia ir pra lá, ficar por alguns poucos meses e depois voltar pra casa do irmão e pra vida que levava antes.
Um cara desses vai se reabilitar? Muito difícil.
Então, com base nessas coisas todas que vi e ouvi, no momento que li a reportagem, minha primeira idéia foi: Dependendo do cara, deixa lá pra morrer, porque a reabilitação de um cara que está na crackolandia, tem mais de 45 anos e não tem família, é muito dispendiosa pro governo e depois de reintegrado dificilmente ele conseguirá ser efetivamente útil para a sociedade, fora a chance de recaída.
Esse pensamento acabou comigo, ele vai de encontro a tudo que acredito e sempre falei,
Eu me senti mal por pensar isso, mesmo que por uma fração de segundos, vi que estou ficando realmente indiferente e que a vida dessas pessoas não está significando muito pra mim, da mesma forma que não significa nada pra elas.
Eu estou parando de acreditar em recuperação, mudança e melhoria.
Depois de ter concluído isso, comecei a tentar identificar em que ponto isso começou a mudar, qual foi o gatilho? O que disparou esse medo?
Porque, pra mim, isso é medo, medo de encarar, medo de tentar resolver, ajudar. Ou no pior dos casos (que – ainda bem – não considero o meu) pouca vergonha mesmo.
Ainda não cheguei a um veredicto a respeito disso, mas um fator que eu acredito ter sido de extrema importância nessa mudança é o futuro do Diego.
Tenho a impressão que de um jeito deturpado e não racional, algo dentro de mim tenha, por um segundo, achado que uma chacina (porque deixar lá pra morrer É uma chacina, você só se sente um pouco mais aliviado porque não puxou gatilho), resolveria o problema, impediria que no futuro o meu filho pudesse vir a ser um desses caras.
Isso levantou outra questão, essa irracionalidade que ficamos quando o assunto é filho, esse instinto protetor, mesmo nas mães mais liberais... Só que isso também é coisa para outro dia...